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Eco barreira: novo modelo segura até cinco vezes mais lixo

Após 6 anos, o ativista ambiental Diego Saldanha fala das melhorias, repercussão até aqui e a importância da Eco barreira para o meio ambiente
Diego Saldanha

O poder da força de vontade. Com mil reais do próprio bolso, Diego comprou 50 galões, rede de proteção e cordas. O que fez com isso? Uma espécie de barreira ecológica para segurar o lixo que adoecia o rio em que brincava durante a infância.

Você já deve conhecer o ativista paranaense que construiu uma eco barreira no Sul do país. Em 6 anos de projeto, ele já conseguiu retirar em torno de 15 toneladas de lixo deste rio tão especial para ele e para todos nós. O rio Atuba tem pouco mais de 30 km de extensão. Ao final de seu trecho, junta-se ao rio Iraí. Formando assim, o rio Iguaçu, das belas Cataratas do Iguaçu, o maior conjunto de cachoeiras do mundo, com 275 cachoeiras.

Ao conversar com o Meio Sustentável, Diego se mostrou realizado em falar do impacto positivo dos seus projetos. Mais do que isso, ele se mostrou incansável na busca pelo sonho de conscientizar o maior número de pessoas sobre o valor de agir em prol da natureza. Hoje, a eco barreira já foi replicada em mais de 50 cidades em todo o Brasil.

É um trabalho de formiguinha porque precisa acreditar muito, o fator principal é a resiliência, porque tem muitas dificuldades no caminho. A eco barreira foi o carro-chefe, há 6 anos atrás. E, assim, uma iniciativa que era necessária criar, mas ninguém, ninguém fazia. Todo mundo ficava esperando pelo outro ou pelo prefeito da cidade, pelo político, tal, A ou B. E eu falei assim: Não vou esperar por ninguém, eu vou fazer e ver o que que dá! É um trabalho muito verdadeiro.

Entrevista

Meio Sustentável: 2023 é um ano diferente, não é, Diego? Conta pra gente sobre o sonho de viver dos seus projetos ambientais.
Diego Saldanha: O ano de 2023 foi a virada de chave que eu sempre sonhei. Eu sempre acreditei que esse dia iria chegar. Nesse ano, comecei a monetizar com as redes sociais. Essa receita ajuda bastante no orçamento. O dinheiro da monetização nas redes sociais, eu acabo investindo no próprio projeto também. Querendo ou não, é um investimento, porque dali vai sair conteúdo, a roda só vai girando. Além da comercialização das eco peneiras, sigo com as palestras pelo país inteiro, tanto para empresas como para escolas. É dessa forma que eu estou conseguindo viver e estou muito feliz!

MS: Não vende mais frutas então?
DS: Durante 25 anos da minha vida, eu trabalhei vendendo fruta, um trabalho que eu amo, digníssimo. Mas no fim, eu já estava cansado, sabe? Por muito tempo, fazendo a mesma coisa. Sempre inovei vendendo também. Só que eu queria sair, queria trabalhar com os meus projetos ambientais. Eu tive o cuidado de deixar uma pessoa a altura. O meu irmão ficou cuidando do ponto, que era um ponto muito bom, por sinal, então ele está dando sequência porque ele ainda vende fruta.

A criação da eco barreira

MS: Quando você começou a eco barreira, você tinha noção aonde iria te levar?
DS: Não, de forma nenhuma. Na verdade, eu fiz a eco barreira sem pretensão nenhuma. As pessoas perguntam, por que fazer a eco barreira? O Rio Atuba, ele foi o rio que fez parte da minha vida, né? Na infância era ali que eu brincava, era uma água boa, era própria para banhos, a gente pescava no rio, eu me alimentei diversas vezes de peixe daquele rio. O tempo foi passando e ele virou um corredor de de lixo, infelizmente. Eu tenho três filhos e quero que eles cresçam com uma consciência ambiental melhor do que a nossa. Foi aí que eu tive a decisão de criar alguma coisa que eu pudesse ajudar.

MS: A eco barreira não é a mesma do início do projeto, quais as atualizações do equipamento?
DS: Ela passou por diversas a atualizações. Inclusive, estou fazendo um modelo novo agora, que estreei nos últimos dias. Uma eco barreira mais robusta, mais eficaz. É mais moderna.

A primeira que eu fiz foi de garrafa pet. Eu vi que funcionou, mas ficou muito, muito frágil, porque o rio ele enche, vi que eu poderia melhorar. Eu fiz uma com um tambor de 50 litros envolvidos por uma rede de proteção. Ficou bacana, daí eu fiz uma outra, mais moderna, com cano de PVC e uma telinha por baixo. Essa é uma das que eu mais gosto, só que ela é cara. Na época, me custou uns 3000 reais. Como na época não tinha nenhum tipo de recurso a não ser as vendas de fruta, eu optei por abandonar porque precisava de uma manutenção anualmente. Voltei com a anterior porque não precisava.

Essa que eu estou fazendo aqui agora é um projeto inovador. E também tem um custo bem alto. Eu estou fazendo também umas outras reformas na eco barreira: no guincho e na ponte que eu construí que vai custar em média uns dez mil reais ela pronta. E se você analisar 10 mil reais para você investir em prol da limpeza de um rio, é só pra quem é extremamente apaixonado que faz, qualquer outra pessoa não faria.

Diego continua seus projetos independente das circunstâncias

MS: Você chegou a realizar uma “vaquinha” na Internet, não foi?
DS: Você deve conhecer o Portal Razões para Acreditar. É como se fosse o padrinho do meu projeto, foram meu principal apoio. Eles me ajudaram muito a divulgar o projeto na época e cada vez que saía na plataforma deles, eu ganhava muitos seguidores. Então, perguntaram o que eu precisava para modernizar o projeto. Na época, era uma ponte para visitação, um guindaste para tirar o lixo com mais proximidade do rio e precisava construir um museu do lixo; totalizando em média, 30.000 reais.

Isso no meio da pandemia, tava tudo muito caro, né? Principalmente o material de que eu usei, que é aço, ferro. Aí a gente conseguiu! Eu peguei esse dinheiro e investi cada centavo no projeto. Assim, comecei a receber crianças de escolas para visitar o meu projeto, foi bem legal.

MS: Você continua sem ajuda financeira das autoridades, como é isso?
DS: No primeiro momento do projeto, eu ficava muito chateado pela falta de interesse em ajudar dos órgãos públicos, mas depois entendi que às vezes é até melhor. Eles não se intrometem no projeto, sabe? Claro que seria bom, mas eles também não me atrapalham. Aí eu consigo me virar aqui e vou fazendo tudo por conta.

Educação ambiental e o impacto da eco barreira na comunidade

MS: Aumentou o fluxo de lixo no rio com a eco barreira?
DS: Vou explicar como que é o fluxo do lixo no rio. Não é porque a pessoa sabe que tem uma eco barreira que ela joga lixo no rio. Não é assim que funciona. Talvez tenham algumas pessoas que pensem assim, mas de forma nenhuma é assim.

Acontece que o lixo está presente em todos os rios urbanos do Brasil. Ali aparece mais porque estou bloqueando e mostrando na Internet toda hora. Mas as pessoas, elas jogam lixo na rua, elas jogam lixo em qualquer lugar. Quando a chuva vem, a chuva arrasta tudo para o bueiro, para o rio. Em dias de chuva, a quantidade de lixo que desce pelo rio é assustadora, não é só no Atuba, e sim em qualquer rio urbano em que você for, pode estar na mesma situação ou pior. Aí, conforme eu fui atualizando eco Barreira, a capacidade de ela segurar lixo só aumenta. Essa que eu vou fazer agora, a ideia é que ela pare até cinco vezes mais que as outras. Ela vai ter uma tela ne frente. E essa tela vai proteger o rio, ela não vai atrapalhar; por exemplo, o peixe consegue passar por baixo normalmente.

MS: Eu li muitos elogios, claro, mas também críticas sobre a eco barreira não ser suficiente para a limpeza do rio. É indiscutível a ajuda que seu projeto realiza. Inclusive a comunidade passou a jogar menos lixo no rio, estou certa?
DS: Sim, a comunidade próxima à eco barreira tem ajudado. Não todos, né? Mas assim, 80% das pessoas tiveram um outro olhar. Inclusive, desde que eu comecei com a eco barreira, nunca mais o rio transbordou. Isso é um ganho enorme para toda a comunidade. A gente vivia com medo ali do rio transbordar, alagar. Tem um vizinho que reconhece isso, fala, cara, desde que você começou, esse rio nunca mais transbordou. Meu pior medo era esse.

Onde eu moro, me preocupei em fazer uma estação de tratamento de esgoto. Algumas pessoas falaram já isso, você tira o lixo do rio, mas tem esgoto. Mas eu não sou o Superman, estou tentando resolver um dos problemas. A questão do esgoto ou de outra poluição não cabe a mim. Nem a do lixo cabe a mim. Mesmo assim, estou tentando ainda fazer, porque eu já fiz a fossa ecológica em algumas casas na região.

MS: Quanto de lixo você retira por ano?
DS: O projeto eco Barreira em si tem de 5 para 6 anos, mas não é uma conta exata. Ao longo do projeto a média é de 10 a 15 toneladas. Agora ela vai captar muito mais e essa conta vai aumentar significativamente. Eu meio que tirei da cabeça ficar contando porque é muita coisa. Pensei em fazer a minha parte, tirar o lixo, divulgar, tentar influenciar as pessoas a cuidar.

MS: Qual a coisa mais absurda que já apareceu? Vi que você já retirou porta de geladeira, fogão, capacetes e até moto.
DS: Já tirei até carro do rio. Mas não com a eco barreira. Foi um pouco mais acima. Eu que me responsabilizei e tirei, senão estava até hoje no rio. Eu decidi criar o Museu do lixo justamente porque eu tirava muita coisa inusitada. Tirava capacete, pedaço de porta de geladeira, carcaça de máquina de lavar, e essas peças eu fui amontoando dentro de uma salinha. Hoje, essa sala tem mais de 500 peças, inclusive ela fica para visitação também.

MS: Depois de todos esses anos, como a família está envolvida nos projetos?
DS: Minha família é bem engajada. A minha mãe ajuda muito, é o braço direito do projeto. Quando eu preciso viajar e tenho que fazer alguma coisa na eco barreira, é ela que faz para mim. Minha esposa tem um brechó que é totalmente sustentável, né? Nós não somos perfeitamente ecológicos, né? Porque é difícil você ser 100% sustentável o tempo todo. Mas, a gente já está dando o passo que a gente pode.

Marizete fala da Eco barreira
A mãe de Diego, dona Marizete Saldanha Mello, ajuda a selecionar os materiais. As bonecas sujas e quebradas são limpas, higienizadas e doadas / Foto: G1/Globo

MS: Sua mãe continua fazendo as bonecas?
DS: Continua. Ela pega uma boneca toda suja e dá um talento, fica muito bonito.

MS: E o trabalho nas escolas?
DS: Escola municipal tem muita dificuldade, não consegue pagar um palestrante, então pelo menos uma vez no mês eu faço uma palestra voluntária na escola municipal. Acabo realizando mais ações nas escolas particulares.

Diego fala da Eco barreira nas escolas
Diego na Escola Jardim das flores em Colombo, Paraná.

Curso Como construir uma eco barreira

MS: Qual a situação do Curso que você montou?
DS: A venda não estava tão legal assim, logo eu pensei em baixar o valor a um preço popular. Aí eu tive uma outra ideia: de tirar do Hotmart e postar esses vídeos nas minhas redes sociais. Eu acho que eu tenho a missão de vida de passar esse conhecimento para as pessoas. Na minha rede social estará monetizando, talvez nem tanto quanto o curso, mas acho que é o melhor caminho a ser feito: transmitir tudo de forma gratuita. Nos próximos dias, vou tirar da plataforma e estarei postando nas redes como montar uma eco barreira caseira.

Lembrando que…

Para fazer uma eco barreira precisa de toda uma estrutura de acompanhamento. Por exemplo, a gente está em um mês de muito frio aqui em Curitiba. Eu tenho que limpar, esteja sol ou frio, é uma responsabilidade minha. Se eu não for, ninguém vai lá. É essa força de vontade e a resiliência de que falamos lá no começo.

MS: Mas para quem ainda assim desejar uma consultoria, você também oferece, certo?
DS: Uma consultoria mais especializada para prefeituras e empresas, sim, tem essa opção também.

Outros projetos ambientais

MS: E quais os projetos que estão em pleno funcionamento hoje?
DS: A eco barreira continua a todo vapor. No início deste ano, comecei com a comercialização da eco peneira. A eco fossa é um projeto de saneamento básico que eu tenho na minha casa. Fiz em outras casas também. Infelizmente, eu não consigo ampliar aí do jeito que eu quero. Mas na medida do possível, vou ampliando. Quanto aos postes solares, estamos com uma novidade de fazê-los desmontados. Envio desmontado pelo correio e a pessoa vai montando peça por peça até formar o poste.

Reconhecimento

MS: Só em 2023, você já recebeu alguns troféus como os prêmios Hugo Werneck e Personalidade Ambiental. Quantos recebidos no total?
DS: Eu acho que passa de 20 prêmios nacionais. Na minha cidade, fui reconhecido como um cidadão honorário. Tem um peso muito grande todo esse reconhecimento.

Diego entende que o reconhecimento precisa caminhar lado a lado com o retorno financeiro, e durante muito tempo isso não aconteceu:

Eu tenho uma família, tenho conta como todo brasileiro tem. Eu preciso ser remunerado e nunca tive apoio de nenhuma autoridade da minha cidade para isso. Eu faço um trabalho que eles deveriam fazer. Na verdade, que todos teriam que fazer, né? Mas principalmente eles.

Motivação para continuar

MS: A motivação é a mesma do início ou algo mudou?
DS: A motivação é maior ainda porque o reconhecimento chegou. Então você tem uma responsabilidade maior de sempre estar inovando e é o que eu busco.

MS: Como você vê a sua trajetória refletindo na vida dos seus filhos hoje?
DS: Eu vejo que eles estão se tornando cidadãos exemplares na área ambiental. Não só nessa área, em tudo. Mas, principalmente nesta. Eu vejo pelas iniciativas, pelas atitudes deles. Eles se preocupam em guardar o lixo no lugar certo, em não jogar lixo em qualquer lugar. São essas atitudes que a gente busca nas pessoas. Na escola, eles puxam esse tipo de movimento também. Recentemente, fiz uma palestra na sala do meu filho e foi muito emocionante. Emocionou a professora, eu, ele, todos juntos, foi bem legal.

MS: O que você aprendeu nesse caminho com todas as experiências boas e não tão boas assim?
DS: Eu aprendi o sentido da vida, sabe?! Eu sempre gostei da minha vida e tal, mas quando eu decidi a cuidar de mim é que eu me senti melhor. Eu senti que eu sou mais saudável. Porque eu acho que me faz bem cuidar do meio ambiente. Eu acho que eu fiquei uma pessoa mais família. E assim… Eu não sou perfeito, eu não consigo ser totalmente perfeito o tempo todo. A gente tem erros como todo mundo, né? Mas eu sinto que eu sou uma pessoa melhor.

MS: Você tem mais sonhos?
DS: Ah, eu tenho o sonho de poder viver para sempre na área ambiental. Eu tenho o sonho de um dia não construir mais eco barreiras. Mas é um sonho muito distante, porque o costume das pessoas não muda de uma hora pra outra. Precisa de muito trabalho. Em resumo, eu tenho sonho de continuar fazendo o bem pelo meio ambiente.

MS: Você é uma inspiração, sem dúvida.
DS: As pessoas talvez não vão conseguir fazer todas as ações que eu faço, mas você fazendo a sua parte não precisaria haver uma eco barreira, por exemplo. Se todos fizessem o básico, o mundo seria outro. Tem que mudar urgente, né? Mas não dá pra gente fazer uma coisa bruta que acaba distanciando a pessoa. Devagarzinho a gente vai mudando a consciência das pessoas, vou continuar trabalhando pra isso.

Acompanhe a estreia da Nova Eco Barreira nas redes sociais de Diego:
Facebook diegosaldanha
Instagram @diegosaldanha_ecobarreira
Tik Tok @ecobarreiradiegosaldanha

E confira a matéria sobre a Eco Peneira aqui mesmo no Meio Sustentável.

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