Quando falamos em desenvolvimento sustentável, precisamos lembrar que ele só poderá acontecer quando alcançarmos um equilíbrio entre o ambiental, o social e o econômico. Um dos setores que tenta otimizar essa meta é o da bioeconomia.
De maneira geral, a bioeconomia busca soluções sustentáveis para promover uma relação harmônica entre a economia e o meio ambiente. Com isso, ela promove o consumo consciente, principalmente dos recursos naturais, para evitar a escassez para as gerações futuras e ajudar na manutenção das mudanças climáticas.
Então vem entender melhor como funciona essa economia sustentável!
O que é a bioeconomia?
A bioeconomia pode ser definida, de maneira simples, como a forma de conhecimento que utiliza os recursos naturais de forma racional. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a bioeconomia é a “produção, utilização e conservação de recursos biológicos, incluindo os conhecimentos relacionados, ciência, tecnologia e inovação, para fornecer informações, produtos, processos e serviços em todos os setores econômicos, visando uma economia sustentável“.
Com isso, ela busca construir uma economia pautada na utilização de recursos de base biológica, recicláveis e renováveis. Para embasar essa proposta, se juntam pensamentos ligados à biotecnologia, biologia sintética, química de renováveis e outras áreas para criar produtos e serviços de menor impacto para a natureza.
Produtos como plásticos biodegradáveis, alimentos funcionais e a energia limpa são frutos de pensamentos como esse. Assim, a principal diferença entre a bioeconomia e a forma de economia tradicional é a própria utilização da ciência, tecnologia e inovação para a promoção de soluções sustentáveis.
Onde surgiu a bioeconomia?
O conceito da bioeconomia surgiu ainda no século 20, quando o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen englobou nas ciências econômicas os princípios da biofísica e afirmou que o modo de produção de bens materiais na época iria influenciar a disposição de recursos naturais para as gerações futuras.
Mas o termo só se tornou popular no início do século 21, quando a União Europeia (UE) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aderiram ao conceito para promover o uso da biotecnologia e desenvolver novos produtos e mercados.
Desde então as instituições trabalham com políticas estratégicas com a bioeconomia de forma a abranger todos os setores da sociedade: animais, plantas, microorganismos e biomassa derivada, incluindo os resíduos orgânicos. O objetivo último é proteger o meio ambiente, evitar a superexploração dos recursos naturais e potencializar a biodiversidade.
No Brasil, o termo é novo, mas o modo de fazer não. Isso porque o conceito já foi utilizado no país na década de 1970, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Graças a essa iniciativa, surgida na época para enfrentar a crise mundial do petróleo, o Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de etanol e o maior exportador mundial.
Como a bioeconomia pode contribuir com o desenvolvimento sustentável?
A bioeconomia tem uma importância única para a promoção de um futuro sustentável para o planeta. De forma empírica, o Brasil é uma das peças chaves para a utilização dessa economia para o desenvolvimento sustentável. Isso porque o país é detentor da maior biodiversidade do planeta, representando 20% do total, e a gestão responsável desses recursos é o principal desafio para a gestão ambiental.
Segundo o Panorama Ambiental da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), se não houver novos esforços para frear a perda de biodiversidade, mais de 10% desses recursos serão perdidos até 2050. Genebaldo Freire, doutor em Ecologia e autor de livros sobre educação ambiental, também falou que é necessário corrigir a rota e adotar um modelo econômico que priorize a preservação ambiental.
Isso tudo porque poderá haver a escassez de recursos naturais para as futuras gerações, uma vez que a tendência de crescimento populacional no mundo é de 75 milhões de pessoas a cada ano. Por isso, as atividades do setor estão no cerne de pelo menos metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, desde a segurança alimentar até a garantia de acesso à energia e saúde.
Explicando um pouco mais, embora todos esses objetivos possam se beneficiar da aplicação da bioeconomia, um estudo da FAO identificou quatro áreas de relação:
1. A bioeconomia influencia a consecução da erradicação da pobreza, da fome zero e da redução das desigualdades.
2. A bioeconomia está relacionada aos objetivos de água potável e saneamento, cidades e comunidades sustentáveis e consumo e produção responsáveis.
3. A bioeconomia impulsiona uma indústria e infraestruturas sustentáveis, além de promover o crescimento econômico e o trabalho decente.
4. A bioeconomia incentiva a saúde e o bem-estar e a ação contra a mudança global do clima, o que beneficia a vida na água e a vida dos ecossistemas terrestres.
O que é bioeconomia na Amazônia?
A riqueza ecológica encontrada no Brasil é capaz de promover mudanças e impulsionar ainda mais a bioeconomia mundial. A Amazônia é detentora de 20% de todas as espécies de fauna e flora existentes no mundo, por isso há uma movimentação gigantesca para a preservação desse ecossistema.
Esse fato ainda coloca o Brasil em posição de destaque em estudos ligados à bioenergia, aptidões agrícolas e biotecnologia. Junto a isso, a diversidade de espécies encontradas promove a geração de riquezas em diversos formatos, possibilitando a exploração da biodiversidade para a descoberta de novas funções para elas.
Para se ter uma ideia, atualmente existem 245 espécies da flora nacional que são utilizadas como base para cosméticos e biofármacos, além de 36 espécies de plantas que são utilizadas para a fabricação de fitoterápicos.
Há muito espaço no país, e principalmente na Amazônia, para o estudo e aprofundamento da biodiversidade para alcançarmos soluções com base inovadora e tecnológica. Com apoio da industrialização nos moldes da bioeconomia, é possível fazer novas descobertas sem prejudicar a floresta.
Quais são os benefícios da bioeconomia?
O maior benefício da bioeconomia é gerar soluções de base biológica que possam promover a sustentabilidade. Mas ainda existem benefícios específicos em cada área da sociedade, uma vez que o seu impacto é amplo.
- Mais recursos para uma área em que o Brasil tem potencial: o Brasil é tão ecologicamente diverso que atrai investidores de todo o planeta para impulsionar os trabalhos com bioeconomia;
- Estímulo ao avanço tecnológico: o incentivo vai além da indústria, mas dentro das universidades e parques tecnológicos para a promoção da inovação;
- Melhoria da imagem do Brasil no exterior: nesse cenário, o Brasil é um dos maiores do mundo com potencial;
- Desenvolvimento sustentável: com a adoção da bioeconomia, diversos processo que hoje são tóxicos, podem ser aprimorados;
- Consolidação de uma economia de baixo carbono: esse é mais um dos pontos de influência, uma vez que a eficiência energética também impacta para diminuir a emissão de gases efeito estufa;
- Mais investimentos no país: a bioeconomia exige investimentos em diversas áreas para a consolidação de novos processos menos poluentes;
- Geração de emprego: neste caso há o surgimento de novas profissões e vagas de emprego para as pessoas gerirem os processos;
- Maior segurança jurídica e novos modelos de negócios: aqui há a elaboração de novos formatos mais eficientes e amistosos ao desenvolvimento sustentável.
Bioeconomia na indústria
A bioeconomia também é descrita como um novo modelo de produção industrial, mas com o uso racional dos recursos biológicos. Dentro do setor industrial ela busca substituir os recursos fósseis e não renováveis e integrar ainda mais a agricultura e a indústria de forma sustentável.
Vale dizer que a sustentabilidade hoje é um divisor de água para o sucesso das empresas, logo a adoção da bioeconomia fortalece os negócios e gera uma vantagem competitiva e um maior valor agregado aos produtos.
No Brasil, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) movimenta o setor de forma a impulsionar a busca por soluções sustentáveis, tendo como inspiração o Mapa Estratégico da Indústria e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A expectativa é reduzir a dependência de recursos de fontes fósseis e o impacto sobre a biodiversidade e o meio ambiente.
A adoção da bioeconomia na indústria também tem potencial para ajudar na transição das atuais práticas econômicas não-sustentáveis para sistemas industriais renováveis, alinhando ainda a inovação e a sustentabilidade.
Agenda CNI para a bioeconomia
O CNI possui um documento, desde 2013, que alinha as principais ações e medidas que a indústria brasileira deve tomar apoiada na bioeconomia. O objetivo central dessa agenda é aumentar os níveis de produtividade e de eficiência, e alcançar um elevado grau de competitividade, respeitando os critérios de sustentabilidade.
Além dessa agenda, há outros documentos que estabelecem parâmetros e indicam caminhos para a construção de um ambiente de negócios favorável, com regras claras e segurança jurídica.
Quais são as propostas da CNI?
De acordo com a agenda do CNI, para o desenvolvimento da bioeconomia no país, devem ser levadas em consideração suas três dimensões básicas: biotecnologia industrial, setor primário e saúde humana. Além disso, existem ações convergentes que eles consideram críticas para o desenvolvimento, são elas:
- Modernização do marco regulatório
- Aumento dos investimentos em P & D & I
- Adensamento da base científico-tecnológica
- Ampliação e modernização da infraestrutura laboratorial
- Estímulo ao empreendedorismo
- Disseminação da cultura de inovação
Ainda existem outras frentes que o conselho trabalha para a disseminação da bioeconomia:
1 – Empreendimentos que envolvam o uso sustentável da biodiversidade necessitam de instrumentos de financiamento e estímulo ao capital de risco.
O novo regime legal de acesso aos recursos genéticos possibilita um cenário mais atrativo para investimento em pesquisa com a biodiversidade brasileira. É fundamental, no entanto, o desenvolvimento de instrumentos de financiamento e estímulo ao capital de risco para empreendimentos que envolvam o uso sustentável da biodiversidade.
2 – O uso sustentável da biodiversidade minimiza riscos ambientais e gera oportunidades para as empresas.
O setor empresarial tem papel fundamental no enfrentamento dos problemas ambientais, incluindo a perda da biodiversidade. O uso sustentável da biodiversidade minimiza o risco de extinção das espécies exploradas comercialmente, proporcionando oportunidades de negócios com sustentabilidade.
3 – É fundamental que existam investimentos em P&D relacionados à biodiversidade.
A ampliação de investimentos da indústria em biodiversidade passa pela formação de ecossistemas de inovação. Esses ecossistemas devem ser estruturados em P&D, para desenvolvimento de novos bens e serviços com base em recursos da biodiversidade.
4 – É essencial a participação da indústria nas discussões sobre o acesso a patrimônio genético no país.
A Lei da Biodiversidade possibilitou o ingresso da indústria nas discussões sobre patrimônio genético. Essas discussões contribuem ativamente para a construção de políticas públicas que influenciam o ambiente de negócios.
Como promover a bioeconomia?
O principal ponto de partida para a implementação da bioeconomia é a utilização da ciência e da tecnologia para a promoção de soluções inovadoras aos problemas mundiais ligados à escassez e proteção dos recursos naturais. Mas para isso, ainda é necessário ampla participação dos governos locais, nacionais e organizações supranacionais para a adoção de um plano de ação.
Entre os principais pontos que devem ganhar investimento e esforços conjuntos, estão:
- Aumentar os investimentos em pesquisa, inovação e capacitação: os estudos são a base para chegar a soluções inovadoras e sustentáveis, mas para isso é necessário unir as universidades às indústrias para a plena aplicação das tecnologias desenvolvidas em laboratório.
- Reforçar a coordenação política e o compromisso: nesse âmbito as lideranças políticas precisam estar alinhadas para promover políticas, iniciativas e setores econômicos relacionados à bioeconomia e evitar desperdícios.
- Melhorar os mercados e a competitividade: aqui há a necessidade de proporcionar a base de conhecimento necessária às indústrias para a transição de modelos de negócios e a promoção da bioeconomia para gerar maior valor agregado.
De maneira geral, a adoção da bioeconomia como modelo de negócio em diversos setores da sociedade influencia para a promoção do desenvolvimento sustentável. Há diversas ações e metas que podem ser feitas para estimular produções mais eficientes e menos poluentes.
Vale destacar que a ciência, a tecnologia e a inovação são pilares da bioeconomia, logo a educação deve ser um dos primeiros setores a receber investimentos, buscando como resultado a elaboração de soluções inovadoras que podem ser aplicadas em campo, ou seja, dentro das indústrias ou modelos de negócio.
O Brasil é um dos países com maior potencial para se desenvolver utilizando a bioeconomia, inclusive, já existem feitos que comprovam essa capacidade. Nesse sentido, vale o investimento em iniciativas que são comprovadamente sustentáveis para incentivar a circulação desse modelo.