Os equatorianos foram às urnas neste domingo (20) para escolher um novo presidente, mas também para ganhar voz nas políticas ambientais de seu país, em meio a um pleito marcado por violência política. Trata-se do plebiscito sobre o destino do “Bloco 43”, um grupo de campos de exploração de petróleo localizados no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo.
O Yasuni cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2 mil espécies de árvores e arbustos, 204 espécies de mamíferos, 610 espécies de pássaros, 121 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios e 250 espécies de peixes.
É também o lar de várias populações indígenas — incluindo pelo menos duas das últimas tribos “isoladas” do mundo — aqueles que voluntariamente recusaram a interação com o mundo exterior.
Fim da exploração de Petróleo
Em plebiscito, população do Equador decidiu acabar com a exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuní, na Amazônia. Com 98% das urnas apuradas, a consulta popular sobre o fim da atividade teve 59% de votos “sim” contra 41% “não”, numa decisão considerada histórica e comemorada pelos ambientalistas.
“O povo equatoriano, atento à vida, em solidariedade aos nossos irmãos e irmãs isolados Tagaeri, Taromenane e Dugakaeri, disse “Sim a Yasuní” neste referendo de 20 de agosto. Salvamos seu território, suas vidas, sua soberania alimentar e seus remédios na floresta sagrada Yasuní”, festejou Leonardo Iza, presidente da Conaie (Confederación de Nacionalidades Indígenas del Ecuador).
A decisão faz do Equador o primeiro país do mundo a banir por plebiscito a exploração de combustíveis fósseis numa zona ambientalmente sensível.
Repercussão no Brasil
No Brasil, onde parte do governo Lula, políticos dos estados amazônicos e grupos empresariais vêm tentando abrir uma nova fronteira de óleo e gás na Foz do Amazonas, a decisão equatoriana teve imediata repercussão. “Histórica decisão do Equador de parar a exploração de Petróleo em área protegida. Que inspire todos os países na Amazônia e decisões similares venham sem a a necessidade de plebiscito”, comentou o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo.
Os ambientalistas equatorianos esperam que a decisão comece a ser cumprida imediatamente, com a progressiva interrupção da exploração de petróleo no parque. De acordo com a decisão do Tribunal Constitucional que aprovou o plebiscito, o Estado tem um ano para desmantelar as instalações. Entretanto, segundo a Petroecuador, este prazo é impossível de ser cumprido devido aos protocolos que devem ser aplicados. As lideranças indígenas pediram apoio internacional para a preservação do parque e dos territórios após a decisão .
“Neste pedacinho de território no coração da Amazônia, podemos encontrar soluções para os problemas que mais afetam a humanidade. A ciência tem mostrado que os territórios mais protegidos na luta contra as mudanças climáticas são os territórios indígenas. Por isso convidamos a comunidade internacional a dar uma mão, de forma solidária e sensível, para proteger os territórios que equilibram a vida da Mãe Natureza, que salvam espécies e também a humanidade”, lembrou o presidente do Conaie.
Desde 1989, o Parque Nacional Yasuní – na província de Napo, no norte do Equador, na Amazônia – desempenha um papel crucial no combate às mudanças climáticas, ajudando a capturar o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Yasuní é considerado reserva da biosfera mundial pela Unesco. De acordo com a organização, a Reserva da Biosfera Yasun é uma das áreas com maior biodiversidade por metro quadrado do planeta. 99,73% da reserva da biosfera é constituída por vegetação natural original.
“Esperamos que o governo brasileiro se mire no exemplo equatoriano e decida fazer a única coisa compatível com um futuro para a humanidade e com a liderança que o Brasil quer ter na luta contra a crise climática: deixar o petróleo da Foz do Amazonas no subsolo e apoiar, quando assumir a presidência do G20, no mês que vem, um pacto global pela eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Votação
Na manhã desta segunda-feira (21), com 92% das urnas apuradas, a candidata Luisa González tinha 33,3% dos votos, enquanto Daniel Noboa alcançava 23,6%. Christian Zurita, substituto do candidato assassinado Fernando Villavicencio, obteve 16,5%.
Sendo assim, o país regressa à campanha com a disputa entre Luisa González e Daniel Noboa. O segundo turno está marcado para o dia 15 de outubro. No Equador, o segundo turno ocorre quando nenhum candidato alcança 40% dos votos e 10% a mais do que o segundo colocado.
Esse artigo foi composto por informações de matérias escritas pela por BBC e por Oscar Valporto para o Projeto Colabora.