O Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) lançou uma plataforma de monitoramento dos povos em isolamento voluntário que vivem na porção brasileira da Amazônia. A homenagem marca o aniversário, a luta e a contribuição do indigenista Bruno Pereira, seu fundador. O nome escolhido é Mopi, palavra que, no idioma zo’é, significa “fazer ferroar”. Ela remete a um duplo sentido, o de oferecer medicina aos aliados e veneno aos inimigos.
Lembrado pelo líder indígena Beto Marubo como um dos indigenistas mais dedicados que já conheceu, Bruno Pereira completaria 42 anos neste mês de agosto. Ele foi assassinado na Amazônia, em junho do ano passado, junto com o jornalista britânico Dom Phillips.
O Opi destaca que, “atualmente, 28 dos 114 registros de povos indígenas isolados têm sua existência confirmada pela Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas], que contabiliza 26 referências em estudo e 60 registros de informação”.
Apesar da constante revisão pelo trabalho de qualificação das Frentes de Proteção Etnoambiental, a lista oficial de registros não foi submetida a um reexame sistemático, motivo pelo qual encontra-se desatualizada, acrescenta.
Bruno Pereira foi um dos idealizadores do projeto, fazendo parte da equipe técnica desde que a ideia foi concebida. A iniciativa conta com parceria da entidade com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Operação Amazônia Nativa (Opan).
A Plataforma como ferramenta
A ferramenta reúne informações de bancos de dados públicos e de levantamentos de campo de membros que compõem o observatório. O objetivo é fornecer informações sobre o território ocupado pelos indígenas em isolamento voluntário, condições de saúde que apresentam, empreendimentos e outros tipos de fatores que os ameaçam.
Ela serve bem aos propósitos de indigenistas da região da Terra Indígena do Vale do Javari, que concentra a maior quantidade de indígenas em isolamento voluntário do mundo. Ao todo, são 19, de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA). Entre eles estão os mayuruna/matsés, os matis, os kulina pano, os kanamari e os tsohom-dyapa.
Conforme esclarece o observatório, o Mopi é uma plataforma geoespacial, que abrange os 114 povos isolados reconhecidos pelo Estado brasileiro. Também alcança um povo que vive na região do Mamoriá, no sul do Amazonas e foi identificado em 2021, mas que ainda tem reconhecimento oficial pendente.
As localizações dos registros aparecem com as coordenadas deslocadas, propositalmente, para evitar a identificação exata dos territórios desses povos, pelo risco de ataques contra eles, adiciona a entidade.
Esse artigo foi originalmente escrito por Um só Planeta. Leia o original.