A Lego, uma das maiores e mais icônicas fabricantes de brinquedos do mundo, surpreendeu a todos quando, há dois anos, anunciou uma iniciativa ambiciosa: substituir o plástico convencional de suas peças por uma versão de politereftalato de etileno (PET) reciclado. No entanto, essa trajetória tomou um rumo inesperado quando a empresa decidiu reverter essa decisão, reforçando o compromisso contínuo em encontrar uma alternativa verdadeiramente sustentável.
Niels Christiansen, CEO do grupo dinamarquês, explicou ao Financial Times que, embora a ideia inicial fosse promissora, a transição para o plástico reciclado acabaria por aumentar a pegada de carbono da Lego. Isso porque o processo de fabricação das peças se tornaria mais intrincado, necessitando de mais etapas e, consequentemente, de um maior consumo energético. A adaptação dos equipamentos também seria um desafio, implicando em custos adicionais e um aumento indireto nas emissões de carbono.
Anualmente, a Lego produz bilhões de peças, e desde 2021, a empresa tem se dedicado intensamente a pesquisas para descobrir soluções mais verdes para seus produtos. A meta é clara: até 2032, a empresa deseja ter uma alternativa sustentável implementada em sua linha de produção.
Algumas peças, especialmente as menores e mais flexíveis, já foram substituídas por bioplásticos, no entanto, o desafio persiste para as peças maiores, que precisam manter a robustez e qualidade que são marcas registradas da Lego.
O impacto ambiental dos plásticos, sobretudo os derivados do petróleo, é uma preocupação crescente em escala global. Estes materiais, que podem demorar até mil anos para se decompor, são poluentes notórios, acumulando-se em nossos oceanos e prejudicando a vida marinha. A reciclagem ainda é uma prática pouco adotada: globalmente, apenas 9% do plástico é reciclado, enquanto no Brasil, esse índice chega a 25%.
Especialistas, como Alexander Turra do Instituto de Oceanografia da USP, têm alertado sobre a presença desses resíduos até mesmo em regiões oceânicas distantes, ilustrando a gravidade da situação. A solução pode estar tanto em melhorar os processos de reciclagem quanto em desenvolver plásticos que sejam biodegradáveis. Pesquisas recentes, como a da Universidade Federal do Paraná (UFPR), têm mostrado alternativas promissoras nesse sentido.
A reviravolta da Lego em sua decisão de usar plástico reciclado ilustra bem os desafios multifacetados que as empresas enfrentam ao tentar alinhar suas operações com práticas sustentáveis. No entanto, o compromisso com o meio ambiente e a busca por soluções inovadoras e ecológicas continuam sendo prioridades inabaláveis para muitas delas.