Com o apoio de Common Goal, um movimento coletivo de futebol para a igualdade e a sustentabilidade, e da organização sem fins lucrativos Football for Future, as jogadoras da Copa do Mundo de futebol feminino organizaram-se nessa ação climática com foco nos seus voos de ida e volta aos locais da Copa na Austrália e na Nova Zelândia.
A ação é liderada por Sofie Junge Pedersen, jogadora da Dinamarca e inclui 44 jogadoras, que tencionam compensar as emissões dos seus voos e fazer donativos para outras iniciativas climáticas.
A 9ª edição da Copa do Mundo Feminina já tem recorde de ingressos (mais de um milhão vendidos) e recorde de países na disputa, com 32 seleções participantes. Em outras palavras, será a maior de todos os tempos! As participantes esperam ter, pelo menos, 50 ativistas até ao início do Campeonato do Mundo, nesta quinta-feira, dia 20 de julho.
“Eu me preocupo com o clima, mas não pensei que mais de 40 jogadoras da Copa do Mundo Feminina se inscreveriam para criar um legado ambiental positivo para o torneio” – conta Pedersen.
E reforça: “O que me motiva é que os países e as pessoas menos responsáveis por esta situação são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Isso é injusto.”
Como a ação tomou forma
Sofie Pedersen fez uma apresentação sobre as mudanças climáticas para suas colegas de equipe da Dinamarca e ao Juventus Football Club no ano passado, em 2022. Na reunião, provocou o questionamento sobre a possibilidade de compensação de emissões. Ela conta ao The Guardian que “quando as pessoas perceberam que tínhamos uma crise em nossas mãos, elas nos apoiaram muito e quiseram fazer algo. Depois de sentir o apoio delas, entrei em contato com a Common Goal e a Football For Future, duas organizações que ficaram imediatamente muito interessadas na ideia”.
A partir daí, as jogadoras Jessie Fleming, do Canadá, e Elena Linari, da Itália, inspiraram outras jogadoras de futebol a tomar a iniciativa e a criar uma campanha global.
“Este é um tema que me apaixona e espero que esta ação que eu e as minhas colegas de equipe estamos tomando, acelere o debate sobre o clima e abra um precedente para o que os atletas podem fazer para promover mais políticas ambientais no futebol”, disse Fleming ao The Guardian.
Qualquer pessoa pode realizar a compensação de carbono?
Aviões e outras aeronaves requerem altos níveis de energia para levantarem voo, permanecerem no ar por algumas horas e finalmente pousarem em seus destinos. Essa energia é derivada do combustível dessas máquinas, que é responsável pela liberação de CO2 na atmosfera.
Se o voo de um passageiro gera uma tonelada de CO2, ele pode optar por ajudar a financiar um projeto que desenvolva a quantidade equivalente nas formas de reflorestamento ou de energia renovável, por exemplo.
Sendo assim, os passageiros pagam uma taxa adicional para financiar projetos que compensem as emissões de carbono produzidas por seus voos. Geralmente, essa taxa é paga no momento da compra da passagem. Ou seja, o passageiro tem a opção sustentável adicionada pelas companhias aéreas em seus mecanismos de vendas online ou é direcionado a um provedor de compensação terceirizado.
Existem empresas que já trabalham neste sentido: A United Airlines usa uma mistura de óleo de cozinha usado ou gordura residual e combustíveis fósseis em alguns voos para a Europa. No início deste ano, a empresa anunciou uma parceria com empresas de biocombustíveis para alimentar 50 mil voos por ano usando combustíveis à base de etanol até 2028.
Soluções de curto e longo prazo
Após calcularem a tonelagem de emissões de carbono dos seus voos relacionados com a Copa, as jogadoras doarão dinheiro para uma combinação de resiliência climática, compensação de carbono e iniciativas de adaptação administradas pelo WWF (Austrália, Nova Zelândia) e DanChurchAid. As iniciativas estão sediadas na Austrália, Nova Zelândia e Uganda. Esta seria denominada por elas mesmas uma solução a curto prazo.
“Essa é mais uma ação de curto prazo quando temos um voo que não podemos evitar porque a Copa do Mundo Feminina também é um evento importante para a mobilização de mulheres e meninas ao redor do mundo. É importante mostrarmos a elas que podemos ser quem queremos ser e que elas poderão jogar futebol e outros esportes, assim como meninos e homens.
É um torneio importante, mas também é importante que as pessoas sejam críticas por causa das decisões que tomamos o tempo todo. Não são apenas jogadores de futebol, mas a pergunta que todos precisam se fazer é: Este é um voo que vale a pena fazer ou pode ser evitado?” – Provoca Pedersen.
Pedersen também ressaltou que, a longo prazo, temos que ter voos que sejam neutros em carbono de forma sustentável. As participantes não desejam ser vistas como salvadoras do mundo, este não foi o propósito da campanha. Todas esperam influenciar os responsáveis políticos. Isto é, fazê-los considerar as emissões de carbono na análise das propostas que recebem; como por exemplo, a localização de torneios.
“Prevê-se que a Copa do Mundo de Futebol Masculino de 2026 seja o evento com maior intensidade de carbono na história do campeonato, com as viagens representando 85% do total de emissões”, afirmou Arthur-Worsop, fundador do Football For Future, em um comunicado. “Esta trajetória não é compatível com um planeta saudável para as gerações futuras, e muito menos com o futuro do futebol. As coisas precisam mudar. A escolha da sede da Copa do Mundo de 2030 é um momento perfeito para a FIFA fazer uma declaração significativa.”
Copa do Mundo 2023
Nesta quinta-feira, a anfitriã Nova Zelândia encara a Noruega, campeã de 1995, no Grupo A, no Eden Park de Auckland. Em seguida, pela abertura do Grupo B, estarão em campo a também organizadora Austrália, de Sam Kerr, e Irlanda, no Estádio Austrália. Já a grande final está agendada para 20 de agosto de 2023.
O Brasil estará no Grupo F, ao lado de França, Jamaica e Panamá. A estreia da Seleção está marcada para o dia 24 de julho de 2023, em Adelaide, contra o Panamá, às 8h.
Escrita por Helaine Souza, jornalista / Redação do Meio Sustentável
Sofie Junge Pedersen é jogadora profissional dinamarquesa que joga como meio-campista defensiva do clube italiano Serie A Inter de Milão e a seleção da Dinamarca. Confira aqui a sua conversa com Kyra Sethna-McIntosh ao The Guardian.